Contando sua História com:- Maria Eugênia Bispo

Meu nome é Maria Eugênia Bispo, de Recife, tenho 29 anos, sou jornalista e professora de inglês. Sempre fiz esportes, desde um ano de idade pratico natação e já devo ter passado por todas as modalidades de esportes que conheço. Em 2013, conheci o CrossFit e me apaixonei. 
Em outubro desse mesmo ano, empolgada e atingindo o auge da minha forma física, eu decidi fazer exercícios inspirados no que via na internet. Me pendurei numa barra com cerca de 2m de altura com as pernas e comecei a fazer abdominais. Eu fazia isso sempre após as aulas. 
Certo dia, eu estava mais cansada que o normal, mas não podia deixar de fazer aquele exercício no final do treino. Pedi para um amigo filmar o feito, assim como as blogueiras também faziam. Por estar muito suada, minhas pernas cederam e eu caí da barra, batendo meu braço e cabeça num caixote de madeira e caindo no chão sentada, fraturando e deslizando a vértebra L1 da minha coluna, deixando minha medula em menos de 50%. Nesse momento eu fiquei paraplégica.
Eu fiz três cirurgias em um mês que fiquei internada no hospital. Uma foi de correção, colocando um total de 12 pinos, uma ponte e duas hastes de titânio ao redor da minha coluna para estabiliza-la. As outras duas foram para conter a hemorragia causada pela infecção que tive nos ossos, ou seja, corri um sério risco de morrer ali. Cheguei bem perto, mas nunca desisti. Sempre me mantinha positiva e procurava não desanimar diante das dores e todas as dificuldades que estava enfrentando.
Depois disso tudo, comecei a fisioterapia e, mesmo os médicos dizendo que eu nunca voltaria a andar, por um milagre, meus movimentos começaram a voltar em cerca de um mês do acidente. Aos poucos fui reaprendendo a andar. Isso tudo aconteceu há um ano e meio, mas continuo lutando para voltar a andar 100% e recuperar meu equilíbrio.
Ainda tenho diversas dificuldades e, para elas, faço fisioterapia, reabilitação pélvica, pratico pilates, musculação e treinamento funcional com profissionais capacitados para isso, que me dão total atenção, ajudando na minha reabilitação.
Eu me esforço além do normal para me manter ativa, isso fica bem claro para quem me conhece. Também fica bem claro que eu não desanimo facilmente. Estou sempre lutando para me sentir bem, para ficar bem física e mentalmente. Eu saio, me divirto e tento levar uma vida "normal". Luto pelos direitos dos deficientes todos os dias, enfrento o preconceito de frente e procuro mostrar que as pessoas com deficiência são bem mais forte do que as pessoas costumam imaginar. Essa é a minha vida: me superar e ser feliz. Todos os dias acordo com isso em mente.


O nome de nossa página no face é Acima dos Limites! O que você pode falar sobre viver Acima dos Limites? Acredito que viver acima dos limites, para mim, é dar sempre o melhor que posso de mim em tudo. Tento ser a melhor pessoa para todos ao meu redor e me esforço diariamente mais que o normal para me superar. Eu me esforço muito mais numa academia hoje em dia do que fazia antes do meu acidente. É cansativo, é um trabalho que não para, mas é muito gratificante. Viver acima dos limites foi o que me salvou, o que me fez andar. Espero viver sempre assim.
Como você se sentiu com a possibilidade de não mais andar? Eu ficava sem acreditar, na verdade. Eu pensava mais em como me adaptaria do que no “não andar”. Eu queria saber como eu faria pra voltar a ter uma vida “normal”, independente de como fosse.

Você sempre acreditou  que voltaria a andar? Não. Cheguei muito perto de desistir várias vezes. Era aí que via Deus trabalhando... Sentia que, a cada momento de angústia, ele mandava algo que servia de luz. No momento de maior dúvida, meus dedos dos pés começaram a mexer e esse foi o momento mais especial que vivi até hoje. Foi a maior luz que pude enxergar na minha caminhada. Não tinha mais motivos para desacreditar depois disso.

De onde vinha e vem a sua força no sentido de dar a volta por cima? De Deus, da minha família, dos meus amigos, de saber que eu posso sempre mais.

O que de bom você consegue perceber nessa experiência? Que eu evoluí muito como pessoa, que enxergo o mundo de forma diferente e me orgulho da pessoa que sou.

Alguma vez você pensou em desistir? Como superou isso? Várias vezes. Minha família e meus amigos sempre estão por perto e não me deixam desistir. Eu procuro lembrar de tudo que já superei, do quanto sou forte. Diariamente escuto e leio isso de pessoas pelo Brasil todo. É daí que vem meu “combustível” para superar os momentos de fraqueza.

Quais as suas maiores conquistas pós-lesão? São muitas!! Me considero vitoriosa por cada dia que acordo. Com a deficiência e o blog, pude conhecer diversas pessoas diferentes, que não conheceria se não fosse isso. Tive uma visibilidade muito grande pela superação e isso também é uma vitória muito grande para mim: transformar algo negativo em positivo. Hoje conheço muito melhor meu corpo e seus limites também. Como conquista material, eu competi o Campeonato Pernambucano Master de piscina curta como paratleta e pude ajudar minha equipe de natação do SESC Pernambuco, levando três medalhas de ouro, além da grande emoção que foi voltar a nadar.

Como ficou sua autoestima pós-lesão? Quase nula! Foi muito difícil recuperar isso. Ainda não recuperei 100%. Eu era uma mulher que chamava atenção onde chegava, tinha alguns admiradores. Depois da lesão, a cadeira de rodas e as muletas passaram a chamar mais atenção que eu. Cheguei a escutar algumas gracinhas em festas que fui, mas aprendi que agora tudo é mais real e apenas as pessoas que importam de verdade se aproximam.

De que você se arrepende? Não me arrependo de muita coisa, sempre vivi intensamente. Hoje só me arrependo de ter perdido meu tempo sofrendo por namorados.

De que você ser orgulha? Me orgulho da pessoa que me tornei e de tudo que aprendi. Me orgulho da força que tenho e da minha história como um todo. Hoje sou uma pessoa que me orgulho de mim mesma.

Quais seus sonhos e objetivos? Meu maior sonho, hoje, é ficar 100%, voltar a correr e dançar, sem dúvidas!

Como você teve a ideia do evento “meu primeiro quilometro”? Como todos que passam por algum trauma desse tipo, meu maior sonho era andar. Eu acordava todos os dias e me imaginava levantando da cama e saindo andando pela porta. Se tornou uma promessa para mim mesma. Disse que estaria andando com um ano e estava! Quando foi chegando mais perto, pensei em comemorar todas as minhas vitórias, tudo que aprendi. Eu falava para algumas pessoas e tantas outras se interessaram em se juntar a mim. Eu comemorei o primeiro ano de acidentada (ou de “vida nova”, como gosto de falar) andando um quilômetro, com meus familiares e meus amigos por perto! Foi o dia mais emocionante da minha vida!
Qual a maior lição que você já aprendeu? Aprendi a respeitar e amar muito mais as pessoas. Hoje vejo que a essência é muito mais importante do que qualquer exterior ou bem material.

Como você se sente sendo um exemplo para muitas pessoas e o que você tenta passar no seu modo de viver? Isso é um pouco surreal para mim ainda, mas tento sempre ajudar da melhor forma possível, mesmo sendo “apenas” com o exemplo, como motivação. Tento mostrar a todos o amor que tenho à vida. Acabo ficando mais orgulhosa de mim mesma e tentando ajudar mais pessoas sempre que tenho a oportunidade. É um círculo vicioso e viciante isso de ser um exemplo. Me sinto bem em dar o meu melhor, acabo servindo de exemplo para mim mesma muitas vezes.
Você acredita em  Deus? O que ele representa para você? Ele é tudo. Sempre me apoiei nEle, sempre tive muita fé. Quando o acidente aconteceu, eu confiei muito nEle. Eu sentia o carinho dEle comigo, sentia que Ele estava cuidando de mim a cada passo. Sinto até hoje. Tudo está nas mãos dEle e Ele tem um propósito. Eu só peço para aprender com tudo que está acontecendo. Sei que Ele me colocou nessa posição por um motivo maior, talvez até para ser esse exemplo para tantas pessoas e confio no que ele tem guardado para mim.

Qual a importância da sua família para você? Minha família é tudo para mim! Meus pais pararam tudo para cuidar de mim. Sempre foi assim aqui em casa. Meus irmãos ajudaram como puderam. Minhas tias iam todos os dias no hospital para levar as refeições da minha mãe, que morou no hospital comigo por um mês. Eu sou completamente apaixonada pela minha família!

Fale-nos um pouco do seu blog e do seu trabalho. Eu comecei a escrever no blog mais como uma satisfação aos amigos. Muita gente perguntava o que havia acontecido comigo e como eu estava, então comecei a falar tudo que acontecia por lá, desde o hospital. Falava das cirurgias, do que os médicos falaram, dos dias bons, ruins e de toda a minha luta. Aos poucos foi servindo para muita gente como inspiração. Até me assustei no começo pela quantidade de acessos, mas fiquei feliz por estar ajudando pessoas de alguma forma. Eu sou jornalista de formação, então escrever sempre foi algo bem natural. Hoje estou escrevendo um livro com a minha história, que espero também poder ajudar muita gente dessa forma. http://gogena.com.br/

Agora você pode falar algo especial as pessoas que você ama. Eu sempre tento dar o melhor de mim, ser o melhor para as pessoas que amo. Como todo ser humano, eu falho, mas acredito no amor e na bondade. Sou uma pessoa muito abençoada por ter tantas pessoas especiais ao meu lado. Não tenho como agradecer cada uma pelo papel que exerce na minha vida, mas saibam que sou eternamente grata pela simples existência dessas pessoas.

Rapidinhas:
Uma palavra? Pode ser duas? Resiliência e força!
Um verbo? Amar.
Qualidade/defeito? Positiva/às vezes me isolo.
Eu deveria ser... Mais paciente.
Um livro? “Still me”/ “Ainda sou eu”, de Christopher Reeve.
Um filme? Amor além da vida.
Deus? O que me sustenta.
Amigos? Minha felicidade.
Família? Minha base, meu tudo.
Amor? Um dia encontro!
Saudade? Da minha infância.
Cadeira de rodas? Minha maior professora.
Andar? Meu maior presente.
Vaidade? Aprendi a viver sem, mas daria tudo para usar um salto alto.
Superação? Luta! Muita luta!
Tristeza? Quando duvido de mim mesma.
Alegria? Quando supero expectativas.
Derrota? Só se eu permitir.
Vitória? Acordar todos os dias e ter forças para lutar.







Sorria! Deus acaba de te dar um novo dia e coisas extraordinárias podem acontecer se você crer!





A vida me ensinou que chorar alivia, mas sorrir torna tudo mais bonito.

Pare de olhar para trás, você já sabe onde esteve,
agora precisa saber onde vai.

Que o desânimo e a tristeza sejam sempre
 vencidos pela vontade e fé que habitam em nós.



Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado.





Instagram - @genabispo - @acimadoslimites


4 Comentarios

  1. Grato pela colaboração Maria. Que história inspiradora, parabéns pelas conquistas e pelo grande exemplo.

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  2. Me emocionei demais com sua história !!!! Sua força de vontade e determinação são inexplicáveis !!!!! Qdo estou treinando e o desânimo me faz querer parar , me lembro de vc , das dores que disse sentir para poder voltar a andar ( fisioterapia ) então respiro fundo e vc me faz continuar !!!!! Parabéns pela sua determinação !!!! Força , Foco e Fé !!!! Abraços

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  3. Vi seu depoimento no TedxUfpe...Vc é uma guerreira...parabéns pelo otimismo

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  4. Sempre fui muito independente, trabalhei por 30 anos no Corpo de Bombeiros, atendendo ocorrências de incêndio, salvamento e resgate. Frequentava academia quase todos os dias. Sempre gostei de fazer musculação e de correr. E uma das coisas que eu mais gostava de fazer era caminhada em trilhas no meio da mata. Certo dia senti dores tipo câimbras nas pernas e após uma via sacra entre ortopedistas, neurologistas e fisiatras fui diagnosticado portador de Fístula arteriovenosa medular, que nada mais é uma comunicação anômala entre uma artéria e uma veia. Normalmente, o sangue flui das artérias para os capilares e depois para as veias. Porém, quando existe uma fístula arteriovenosa, o sangue flui diretamente de uma artéria para uma veia, sem passar pelos capilares o que causa paraparesia que é a perda parcial das funções motoras dos membros inferiores. E parestesia sensação anormal da sensibilidade, uma sensação de frio, calor, formigamento, pressão etc. Realizei o tratamento indicado que é feito por cateterismo, onde é feita a embolização arterial, é injetado no interior da artéria substancias embolizantes (cola, ônix, ...) que promoverão a oclusão destes vasos. Já fiz esse procedimento médico. Iniciei minha reabilitação e dependo de ajuda para quase tudo, mas graças a Deus ainda consigo me vestir, comer e tomar banho. Após 03 meses do procedimento, realizei uma nova ressonância passei pelo neurologista que está me tratando e fui informado que apesar da cura da lesão, fiquei com sequelas irreversíveis. Depois da doença, eu só conseguia pensar em voltar a andar e posteriormente a correr e praticar musculação. Porém, percebi que isso não é possível no momento. Eu decidi que ficar chorando, resmungando e vendo a vida passar não vai me levar a nada. Depressão, lágrimas e tristeza não resolvem problemas, só pioram a situação. Pretendo retornar aos esportes. Desde o começo, eu só queria voltar a andar e correr (e ainda quero), e isso me motivou a não ficar chorando e me lamentando na cama. Como eu já treinava há alguns anos, a necessidade de me exercitar está ficando cada vez maior. Preciso melhorar meu sono, voltar a ter momentos prazerosos na rotina e me dar mais alegria. Então, comecei a pensar no que eu poderia fazer: caminhada, correr? Sem chance. O que mais eu sabia fazer? Nadar. Meu objetivo inicial era voltar a andar e correr. Caso não conseguisse, meu plano é voltar a nadar. Já comecei a treinar natação e não vou parar nunca mais. É nosso cérebro que nos move, não o nosso corpo. Hoje estou andando melhor, sei que minha recuperação é lenta, mas tenho fé em Deus que daqui alguns meses ou anos que seja, estarei correndo. Com tudo isso aprendi a ter mais fé, valorizar as pequenas coisas e a ter calma, por que tudo tem a sua hora.

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