Contando sua História com: - Rebeca Barreto

     Meu nome é Rebeca Barreto tenho 23 anos, casada, sou formada em Secretariado executivo trabalhava na área, mas hoje sou atleta e me aventuro no mundo da moda, sou de  São Paulo.
  

     
     Há 3 anos pilotava moto, nunca tinha caído até então... no dia 03 de fevereiro de 2014, trabalhei o dia inteiro e na volta para casa fui fechada por um carro, acabei caindo. Graças a Deus estava sozinha. A moto caiu de um lado e eu do outro, não desmaiei. Aparentemente o acidente não tinha sido grave até porque estava em baixa velocidade. Mas, ao tentar me levantar não consegui, porquê não sentia minhas pernas. Meu pai é policial militar e trabalha na região, no chão mesmo pedi para a pessoa que parou me ajudar ligar para o meu pai ir me socorrer. Meu pai foi o primeiro policial a chegar no local do acidente e a fazer os primeiros socorros. Ali aguardamos o SAMU que me encaminhou para o hospital da região.
Chegando lá fui encaminhada direto para a tomografia onde foi diagnosticado a lesão medular. Os médicos imediatamente perguntaram se tinha convênio, pois o caso era grave e ali não teria condições para uma cirurgia. Fui encaminhada para o Hospital Alvorada. Fui direto para a UTI. O médico de plantão ao ver a tomografia e os raios X, deu seu primeiro laudo. (Na minha frente e para os pais). A lesão era grave, eu não voltaria a andar, provavelmente iria ter uma secreção na região da cirurgia, iria ter que me acostumar a usar fralda e passar sonda para o resto da minha vida.
     Ter ouvido dos médicos que não voltaria a andar me deu forças para não desistir e mostrar que a vida está nas mãos de Deus. Naquele momento ouvindo o que aquele médico estava falando, a única coisa que eu fazia era orar e pedir pra Deus me ajudar e me dar forças. Naquela mesma madruga fui para a sala de cirurgia, passei por uma cirurgia de 10 horas, foram colocados 10 pinos e 3 hastes. Graças à Deus a cirurgia foi um sucesso.
      Até o neurocirurgião analisar a tomografia pós cirurgia e ver um dos pinos fora do lugar. Ainda na UTI no dia seguinte passei por uma nova cirurgia de 8 horas na coluna para retificar o pino que estava torto. Os meus momentos na UTI foram os mais difíceis e doloridos, pois sentia muitas dores que nem a morfina fazia efeito. Depois de duas cirurgias, fiquei cinco dias na UTI e treze dias no quarto em observação. No quarto também tive algumas crises de dores nas costas muitas fortes. Cheguei em alguns momentos pedir à Deus
que se continuasse com aquelas dores eu preferia a morte. A pior coisa é você sentir dor e não ter remédio que amenize. Mas enfim...Deus deu graça e força! No hospital mesmo o neurocirurgião não deu nenhuma esperança que eu voltaria a andar. O médico deixou bem claro que, a cirurgia pela qual tinha passado era simplesmente para me ajudar a sentar, mas quando confiamos em Deus e sabemos que todas, todas as coisas contribuem para o bem, em nenhum momento me deixei abalar ou perde a fé No hospital mesmo comecei a ter uma pequena movimentação na perna direita. Que aos olhos dos médicos era movimentos involuntários, conhecidos como espasmos. Após 23 dias no dias no hospital, vivi o momento mais difícil da minha vida, voltar para casa de onde sai andando, e voltaria em uma cadeira de rodas! Não sabia como seria, como ia ser minha vida dali pra frente. São tantas expectativas e ansiedades. Como seria viver sobre rodas? Assim que tive alta fiquei na casa dos meus pais durante dois meses.  Pois fazia o cateterismo com ajuda, tinha que ser virada na cama a cada duas horas, não tomava banho sozinha, não fazia nada sozinha. Foram dois meses muitos difíceis e de muitas adaptações e mudanças. Durante esse tempo tive o acompanhamento da fisioterapeuta do hospital, que me acolheu como se fosse da sua família. A Lu (fisioterapeuta) que mostrou-me que poderia fazer tudo independente da cadeira.
     A fé em Deus supera qualquer diagnóstico médico... Hoje me aventuro como modelo e palestrante quando surgem convites. Ainda sobra tempo pra ser dona de casa, esposa, filha, irmã e amiga. A sua história quem faz é você... Eu decidi ser feliz independente das circunstâncias!
 
   Após 4 meses de lesão consegui uma vaga no Instituto de Reabilitação Lucy Montoro. Aprendi a ser independente na cadeira e eu poderia fazer tudo e um pouco mais.  Aprendi fazer o cateterismo (xixi) sozinha, aprendi que nós cadeirantes podemos trabalhar, fazer algum esporte, ir para academia , sair, viver etc.. Os movimentos na minha perna direita com a fisioterapia foram melhorando cada vez mais. Na minha primeira internação na Rede Lucy Montoro que foi de 2 meses, comecei dar meus primeiros passos na barra com tala na perna esquerda, pois a direita tinha um pouco de movimento e a esquerda naquele momento só formigamentos. Após esse período de internação, voltei para a minha casa! Afinal sou casada e precisava dar continuidade à minha vida. Aceitei a cadeira de rodas, mas não me conformei. São duas coisas totalmente diferentes! Dei continuidade ao meu tratamento intensivo na fisioterapia, comecei também na academia, equoterapia e natação. Os resultados vieram com o tempo. Hoje em dia para gloria de Deus, não preciso mais usar a sonda para o cateterismo (xixi). A minha perna direita teve uma melhora, a perna esquerda que não tinha nenhuma movimento hoje já consigo abrir e fechar. E a melhora é gradativa.        Hoje já ando com andador. A minha perna direita não precisa de nenhum apoio, somente uma órtese flexível no pé e a perna esquerda por enquanto uso o tutor (um aparelho que me ajuda travar o joelho).
     Hoje após um 1 ano e 10 meses do acidente sou totalmente independente, tenho uma vida normal e com uma rotina muito corrida com atividades diárias. Faço musculação,  natação, pilates, treino funcional e fisioterapia para uma melhora na minha reabilitação e por saúde, aprendi a amar essa rotina doida e não vivo mas sem...kkk
    

Música! 
     Sou de uma família de músicos então desde criança aprendi a amar. Comecei a tocar o clarinete (instrumento de sopro) com 6 aninhos aos 12 anos quis mudar de instrumento e comecei a tocar Oboé e toco até hoje, estudei em algumas escolas de música, toquei em algumas orquestras mas a música acabou virando um dos meus melhores hobby. Quando sofri o acidente fiquei 1 ano sem tocar  porque dedicava todo o meu tempo no início da lesão ao tratamento e recuperação.  Hoje após 1 ano e 10 meses voltei a fazer uma das coisas que mais gosto que é tocar e melhor ainda é que é pra Deus!





Casamento! 
     Quando sofri o acidente tinha apenas 1 ano e 2 meses de casada,  estava em lua de mel ainda. Após passar 30 dias no hospital quando tive alta fui para a casa da minha mãe devido aos cuidados necessários dos primeiros meses, estava com os pontos ainda, a necessidade de ser virada na cama a cada  duas horas, o uso de sonda etc... Fiquei na casa dos meus pais nos 2 primeiros meses mas meu esposo estava sempre presente me dando todo apoio. A fase inicial mais complicada passou e após três meses longe da minha casa, precisei voltar a minha rotina como dona de casa e esposa só que em uma cadeira de rodas. 
Nossa os primeiros meses em casa a readaptação foram difíceis, eram tantas dúvidas,  tantos "serás"... Será que vou conseguir cozinhar, varrer um chão,  lavar roupa, fazer as coisas básicas que uma dona de casa faz. 
Meu esposo sempre esteve presente dando força e com o tempo eu aprendi que mesmo sobre rodas conseguimos fazer tudo que queremos e pensamos.
Foram muitas superações...a cada dia era uma conquista! 
Não adaptei nada dentro de casa... eu que aprendi a me adaptar com o que tinha, posso dizer que sou uma ótima dona de casa, faço tudo e me orgulho disso porque superei várias barreiras.
Eu agradeço a Deus pela vida do meu esposo,  juntos superamos todos os obstáculos que vêem junto da cadeira.  Aprendemos que juntos somos mais fortes! 
Eu não tenho palavras para agradecer todo o apoio que tive no momento mais difícil, o nosso amor cresceu ainda mais! E eu Amo ele.... Agora estamos em treinamento para no futuro aumentar nossa família♡.


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O que você pode dizer sobre a frase “cadeirantes que vencem”?
São pessoas que mesmo na dificuldade conseguem encontrar forças para superar os obstáculos e desafios que surgem no decorrer da vida.

Qual o maior desafio de um cadeirante?
O maior desafio é lidar com o preconceito e a falta de acessibilidade.

Como você olha para a vida hoje?
Bela...Deus me deu a oportunidade de uma segunda chance e eu vivo ainda mais intensamente cada segundo.

Como era sua vida antes da lesão?
Tinha uma vida muito ativa, era totalmente independente, nunca precisei de outras pessoas para fazer alguma coisa. Nada me prendia...Sempre vivi muito intensamente, amo sair, estar entre amigos e  com a família.

Os primeiros meses geralmente são os mais difíceis para os que sofrem lesão medular, o que você tem a dizer para as pessoas que estão passando por essa fase?

Não desista... tudo tem seu momento e tempo certo! O problema é do tamanho que enxergamos, então antes de fazer qualquer coisa tenha sempre um pensamento positivo porque você pode superar tudo e um pouco mais.

 Quanto tempo você levou para decidir encarar a vida sobre rodas de uma forma consciente, positiva e cheia de novas oportunidades e desafios?
Como andava de moto sempre tive a consciência que um dia eu poderia sofrer um acidente e ficar por um tempo na cadeira. Talvez por pensar assim não tive o momento deprê... desde o momento que recebi a noticia que ficaria na cadeira de rodas aceitei de uma positiva mas nunca me conformei, luto para um dia voltar a andar.


O que te fortaleceu nessa transição?

Minha Fé e autoestima, hoje  eu sei que posso muito mais do que imagina.

Como você foi descobrindo e embarcando nas possibilidades sobre rodas como: pilates. Musculação, natação e etc. em que isso melhorou sua vida nos aspectos físico e emocional?
O limite quem coloca é você... e eu aprendi que nada é impossível, basta querer! Mesmo estando na cadeira ainda continuo vaidosa e a pratica de exercícios além de ajudar na minha reabilitação é uma forma de manter um corpo saudável.

Quais você considera suas maiores conquistas sobre rodas?
A cadeira me ensinou a ver o mundo e as pessoas de outra forma, além de me mostra que sou mas forte do que imaginava.

Como essas conquistas influenciaram seu modo de viver hoje?
Sou uma pessoa feliz e me sentindo um pouco mais eficiente e  otimista com o futuro.

Você é feliz? Por quê?
Sou....E muito! Porque tenho a melhor família e  um esposo que sempre me apoiou, e acima de tudo Deus.

O que te deixa triste?
A falta de acessibilidade.... Depender das pessoas para ir e vir.

O que você mais gosta de fazer?
Nossa são tantas coisas... Estar entre amigos e família, sair, viajar, conversar e praticar minhas atividades.

Como você se descobriu como  modelo sobre rodas ?
Antes do acidente já tinha trabalhado na área e depois que sofri o acidente achei na moda um motivo a mais para manter a autoestima sempre pra cima.


Você é uma pessoa super ativa, o que diria as pessoas com limitações físicas que pararam suas vidas?

A vida é muito bela e curta pra você deixar de viver só porque está sobre rodas.

Como ficou sua autoestima pós-lesão?
Sempre fui muito vaidosa e logo que sofri o acidente achei que nunca mais conseguiria ver aquela Rebeca antes do acidente, no começo foi bem difícil mas nunca me deixei abater.

E o que você pode dizer as pessoas que não conseguem viver bem consigo mesmas?
Acima de qualquer coisa você precisa se amar, as dificuldades não são permanentes e quando se tem força de vontade superamos qualquer coisa.

Você já sofreu preconceito por ter limitações?
Claro que sim... muitos das vezes o preconceito está mas próximo do que imaginamos, entre os que se dizem ser “ família e amigos’.

Quais seus sonhos para o futuro?
Hoje é voltar a andar 100%, correr, dança, e ter minha total independência.

Como você tenta influenciar o mudo rumo a dias melhores?
Dando o exemplo, nada melhor que influenciar as pessoas dando sempre o seu melhor.

O que você mais valoriza hoje?
A vida, as pessoas que amo e as pequenas coisas.


Qual a maior lição de vida que você já aprendeu?

Amar e respeitar as pessoas. Hoje vejo que a essência vale muito mais que qualquer bem material.

Como você se sente sendo um exemplo de superação para muitas pessoas?
Eu não me acho exemplo, apenas mostro para as pessoas que é possível superar qualquer barreira mesmo estando sobre rodas.

Como você descreve sua fé e como ela te ajuda?
A fé é inexplicável...  ela me rege e sustenta!

Quem é Deus para você?
Deus é tudo... ele me sustenta, dá forças, coragem, animo. Sem ele não sei o que seria de mim.

O que sua família representa para você?
Minha família é a minha base é meu tudo, um amor imensurável . Meus pais pararam tudo pra cuidar de mim, meu esposo sempre presente e ao meu lado. Meus irmãos sempre me ajudaram e ajudam no que pode. Eu só tenho a agradecer a Deus por permitir  a mim passar por tudo isso, porque como diz o ditado ”o que não mata deixa mais forte” e nós ficamos mais fortes e ainda mais unidos.

Tem muitos amigos? O que falar deles?
Amigos de verdade ficaram poucos da pra contar nos dedos, mas esses valem mais que mil! Eu só tenho a agradecer pela força e companheirismo, sem eles a vida ficaria sem graça.

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Rapidinhas:

Caráter? É tudo...mostra quem você é
Personalidade? Um pouco forte..hahaha
Filme? Amor além da vida
Uma palavra? Resiliência e Determinação
Cadeira de rodas. Minha maior professora
Amigos? Bagunça, alegria
Família? Minha base, meu tudo.
Filhos? Um dia...
Trabalho? Essencial
Amor? Sentimento mais lindo
Saudade? Da infância
Superação? Lutar, vencer
Tristeza? Duvidar de mim mesma
Alegria? Superar expectativas
Esporte? É vida
Dança? Alegria, animação






Eu sempre procuro dar o meu melhor em tudo, mas como todo ser humano eu falho algumas vezes, mas agradeço a Deus pela vida de cada pessoa que sempre esteve ao meu lado incentivando, dando aquela moral! Sou eternamente grata pela existência  de cada um.







Nunca saberemos o quão forte somos até que ser forte seja a única escolha.






Para você assim como eu que esta passando por uma reabilitação ou por algum outro problema tenha certeza de uma coisa apenas. “ os sonhos e os propósitos de Deus para a nossa vida é sempre o melhor”.Talvez você não entenda neste momento, mas tenho certeza que o melhor ainda está por vir.

3 Comentarios

  1. Olá sou Damião Marcos, criador e responsável pelo blog inclusão diferente: www.inclusaodiferente.net – um blog voltado à inclusão social de pessoas com deficiência na sociedade.
    Eu penso que a união das pessoas com deficiência é fundamental para fiscalizar e ter os nossos direitos assistidos como um todo, sendo assim venho propor a você uma parceria, essa parceria poderá ser com troca de banners entre nossos sites e blogs e textos também, sempre citando o autor e a fonte do texto extraído.
    Precisamos nos unir mais para sermos vistos e respeitados somos mais de 50 milhões no Brasil, e isso conta muito, bom desde já agradeço a atenção e aguardo contato para formalizarmos essas parcerias, obrigado.

    Att,

    Damião Marcos – Blog Inclusão Diferente

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  2. tem como o blog passar um email pra contato?

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